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... tenho a liberdade de escrever e deixar ler a quem interessar alguns poemas, fotografias, críticas e outras coisas.A efemeridade da vida e o seu processo cíclico, a efervescência dionisíaca da sociedade são assuntos que quero botar em discussão.Então...fiquem a vontade.

quinta-feira, 27 de maio de 2010

O Poeta e a Acrobata

Certo dia vinha pelas ruas passando
Num desses dias que são muito comuns
Um poeta a pensar
Em que palavras usar
Para seu poema mais genial.
Olhava as imagens a vagar
Absorto e alheio
Aos carros que buzinavam.
Em outro, lugar estava
Desafiando o ar
Uma acrobata peralta
Que subia e saltava
Leve
Suave
E encantava todos que por lá passavam.
O destino então
Como um menino brincalhão
Resolveu que um dia
Numa esquina qualquer da vida
Os dois iriam se encontrar.
O poeta distraído
Cabisbaixo por não encontrar palavras
Levantou o seu olhar
Viu na leveza da acrobata
Tudo que seu coração queria contar.
A acrobata peralta
Subia em seu tecido
Saltava ao ar
Sorria ao poeta
Que assistia aflito
Erguendo os braços para carregá-la.
Finalmente tinha encontrado
O que há muito procurava
A acrobata brincava de espalhar pelo ar
Tudo que estava escondido,
Contido no poeta
E ela reconheceu em seu olhar
As coisas que só o coração compreende
Que para o amor
Não necessitam palavras.

Bailarina dos Ares- Série

Foto:JaquelineSouza

sábado, 22 de maio de 2010

TEMPO



Fotografia: Jaqueline Souza

Um tempo
Um ciclo
Um ano
O tempo que passa
Passa em mim
Meu rosto tem marcas do tempo
Assim como meu ser.
Pessoas têm tempo pra passar por mim
E tempo pra ir embora.
O amor tem tempo de chegar
E tempo de partir
Assim como a espera.
O tempo tem tempo
De rir e de chorar
O tempo de chorar é mais longo que o tempo de rir
Porém o tempo de rir é mais intenso.
O tempo tem tempo pra procurar
Embora não se saiba em que tempo irá encontrar
O tempo que se perdeu.
Mas pra tudo se há um tempo
Tempo de ser criança
Tempo de ser adulto
Tempo de ser experiente
O tempo embora efêmero não se acaba
A efemeridade do tempo se eterniza muitas vezes na lembrança.
Temos tempo de tudo um pouco
Tempo de vida
Tempo de renascer
Tempo de ser
Tempo de estar
Tempo de se encontrar
E de se perder.

Do Amor Fati Para o Amor Mundi




Nada mais resta além da imensa dúvida
o imaginário passeia e assombra
meus pensamentos
continuam vagando por terras longínquas
Andam por diversos caminhos
e não chegam a lugar algum
Meus pés
caminham com a fé cega
Que um dia me recompensará
Talvez
Um dia
Acabo
Por chegar
Concluo então
A vida
Não tem sentido sem seus mistérios.

                          Jaqueline Souza 
                           11/2009

A Estrada de Borboletas Amarelas (17/08/2009)





                                           Registros de Viagem
                                           Foto: Jaqueline Souza
Colorem meu caminho pontos amarelos
Vejo-os movimentando-se
E celeremente batendo contra o vidro do carro
A estrada monta em meus olhos
A imagem de uma pintura impressionista
Chi sà Renoir ou Monet?

Mal sabem as borboletas 
Que elas mesmas traçam meu caminho
Ao destino mais improvável
Talvez elas saibam
Que tenho que segui-las
Por isso se agrupam na estrada

As borboletas amarelas sabem
O que eu me atrevi, a saber, um dia
E outro nem sonha em saber
Que a estrada em que sigo
Mostra-me um caminho de coisas inexplicáveis.
E me pergunto:
Seria a ignorância às vezes uma benção?
Que respondam as borboletas amarelas da estrada.

Penélope


A tecer a trama da vida estou
As pessoas passam por mim
E somente passam
As horas e os dias passam
Passa o anoitecer
E os sonhos e a esperança vão morrendo
A cada vez que nasce o dia.
Até quando?
Quando saber onde se deve parar
E concluir tudo que se deixou incompleto?
Saber como concertar os erros cometidos?
Esperar ou fugir de um destino que não sei ao certo
Se trará ou me tirará todos os desejos.

A tecer a trama da vida estou
Ponteando cada passo
Um por um.
Amores passam por mim
E se desfazem a cada amanhecer
Pois sei que não é o que espero.

A tecer a trama da vida estou
Furando o dedo nas agulhas,
Pregando as lágrimas como pérolas
E as gotas de sangue como pétalas de rosa.

Desmancho tudo toda vez que amanhece.

Algum dia talvez consiga concluir

Como todo e bom artesão

meu trabalho árduo

E ponteie cada linha que me ligue ao que vai chegar.

Enquanto isso teço
E desmancho as linhas do destino
Até quando achar necessário
Fazer-me incompleta.

Jaqueline Souza 07/2009