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... tenho a liberdade de escrever e deixar ler a quem interessar alguns poemas, fotografias, críticas e outras coisas.A efemeridade da vida e o seu processo cíclico, a efervescência dionisíaca da sociedade são assuntos que quero botar em discussão.Então...fiquem a vontade.

sexta-feira, 11 de maio de 2012

Sobre Cabelos



       Os cabelos sempre se constituíram como excelente adorno do rosto, tidos historicamente para a mulher como símbolo de sedução e para o homem como demonstração de força.Eles estiveram associados à ideia de força e beleza, a calvície ficou ligada ao conceito de sabedoria. Assim, os sacerdotes egípcios tinham a cabeça raspada como símbolo de desapego,Sansão retirava de seus cabelos força para derrotar o filisteus,Maria Madalena lavou os pés de Jesus com lágrimas e secou com seus cabelos,Afrodite cobria sua loira cabeleira sua nudez, Shiva aponta com os cabelos as direções espaciais, os índios tiram escalpos dos inimigos, enfim os cabelos tem uma ligação com o ser humano desde muito tempo, que vai além da questão estética ou biológica.

    Eu tenho uma certa história com meu cabelo,uma relação simbólica que me fez parar para pensar nos cabelos que emolduram meu rosto, os mesmos que me acompanharam em várias fases da vida.
    Depois de muito tempo com cabelos curtos, presos e vermelhos, resolvi parar de pintá-los e cortá-los.Hoje, olhando-me no espelho percebi o quanto estavam compridos e negros.
      Lembro que quando menina minha mãe me penteava, me fazia usar cachos e tranças e acessórios que adornavam meu rosto infantil. Quando aprendi a me pentear sozinha, deixava-os soltos ao vento como simbolo de liberdade. Na adolescência, variava de forma, ora estavam presos, ora estavam seus cachos soltos, ora estavam pintados, ora estavam naturais.Na idade adulta, principalmente quando fui mãe, eles ficaram na maior parte das vezes presos, como forma de neutralização de minha feminilidade para dedicar-me aos bebês e assim como minha mãe, fazia o ritual de pentear minhas duas filhas.Agora que elas estão mais crescidas, já não as penteio com frequência, pois tem seus próprios gostos.
    Resolvi  então depois de muito tempo soltar meus cabelos para penteá-los e achei um fio de cabelo branco,lembro que ele não existia até um tempo atrás,este me fez olhar meu rosto no espelho e perceber nele as marcas do tempo.Já não tenho mais o rosto de uma menina, as linhas brancas do cabelo e do rosto, traçam em mim algo que se transforma constantemente.O fio branco ( hoje é apenas um, amanhã será milhares) é símbolo das alegrias e tristezas, dos tempos de luta e de paz, das viagens e das reclusões que transformaram a menina de cachos castanhos na pessoa amadurecida de longos cabelos negros que aos poucos douram como os campos de trigo.Esta descoloração me leva a crer que a velhice é a única etapa da vida ao qual nenhuma sociedade comemora.Segundo Eugéne Barba,teórico teatral, as sociedades comemoram e ritualizam os nascimentos, a puberdade, os casamentos e algumas até mesmo a morte, mas não há registros de rituais que marquem essa passagem para a velhice. Ora se não é nela que acumulamos sabedoria e experiências que devem ser repassadas? A transformação do ser humano nesse sentido não é algo que possa ser relevante?
Olho para meu rosto e vejo o quanto sou parecida com minha mãe,que atualmente está com todos os seus fios brancos como um véu suave.Ela já não me penteia mais e talvez nem saiba ainda da existência deste único fio branco em minha cabeça que me faz tão parecida com ela.Gostaria de penteá-la ,acariciar sua cabeça alva e segurar em minhas mãos cada fio e saber que essas linhas de experiências e sabedoria acumuladas por todos esses anos,todas as suas lutas, todas as suas dores e também suas alegrias , fizeram parte todos os dias de minha vida e construiram a minha história.

terça-feira, 8 de maio de 2012

O mundo é tão pequeno
Cabe na palma de minha mão
Infinitamente mínimo
traça em minhas linhas
o caminho da imensidão.
Estradas que se cruzam
como linhas quiromânticas
nos cruzamos feito estradas
apenas uma história romântica
Leve meu mundo consigo
numa pequena bagagem
Levo seu mundo comigo
Na minha longa viagem.
Da minha mão as linhas fogem
Não traçam mais nem vida e nem morte
Levo seu mundo comigo
Levo nas costas minha sorte.