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... tenho a liberdade de escrever e deixar ler a quem interessar alguns poemas, fotografias, críticas e outras coisas.A efemeridade da vida e o seu processo cíclico, a efervescência dionisíaca da sociedade são assuntos que quero botar em discussão.Então...fiquem a vontade.

domingo, 29 de agosto de 2010

Lúcio no Céu de Diamantes

Às vezes tomamos rumos diferentes
Mudamos nossa maneira de pensar e agir
Nos transformamos
E mesmo com todas as diferenças
Descobrimos uma intercessão que nos une
Por algum motivo inexplicável
Coincidência e simples acaso
Que nos torna iguais 
E com todos os impasses
Conseguimos ainda enxergar
Que há diamantes no céu.

Deixo

Deixo de ser espera e me torno despedida
Deixo de ser espera quando os fatos apressam minha partida
Deixo de ser espera para olhar além do horizonte
E tentar ver tudo como se não tivesse já vivido ontem
Deixo de ser espera para partir Juno guerreira
Deixo de ser espera para ser sem eira nem beira
Deixo de ser espera para apressar meus passos
Ao caminho mais promissor da vadiagem
Deixo de ser espera para ser flâneur
E apenas observar a vida seguindo em viagem
Deixo de ser espera e trilho meu caminho errante
Deixo de ser espera para ter a alma itinerante
Deixo o ser espera e deixo ser amada
Deixo decifrar-me ou te devorar
Deixo de ser espera pra tentar entender a vida
Deixo de ser espera para encontrar a terra prometida
Deixo de ser espera para ter tudo e nada
Deixando de esperar, a espera um dia se acaba.

Jaqueline Souza 21/09/2009

Um Pensamento Básico...

É da natureza do amor – como Lucano observou há dois milênios e Francis Bacon repetiu muitos séculos depois – ser refém do destino.

sábado, 28 de agosto de 2010

Da Minha Janela Eu Vejo... Breve ensaio sobre a flanerie como instrumento de pesquisa para o corpo do ator

   Foto: Jaqueline Souza               Janelas Cotidianas-Série 2003

Durante toda minha infância solitária, tinha como uma amiga íntima e inseparável uma janela. Ela se localizava na sala de minha velha casa de madeira no bairro da Sacramenta, onde todos os dias eu via passar o vendedor de cascalhos com sua música inconfundível no triângulo, a velha que tinha um andar torto e engraçado e que todos diziam que ela era a matinta perera da rua, o carroceiro que passava chicoteando seu cavalo,o carrinho de pipoca que passava buzinando em alto e bom som o bero bero bero, as crianças que brincavam fazendo aquela zoada, enfim, situações corriqueiras, cotidianas da minha rua.

Naquela época, nos anos de 1981 a 1989 eu não tinha mais nada para fazer além de observar as pessoas e me acostumei tanto a isso que passava horas olhando para rua ou para o nada.Minha mãe uma vez intrigada com a situação me perguntou porque estava ali parada sem fazer nada e então respondi: Estou sim fazendo alguma coisa, estou pensando.

As situações cotidianas influenciavam nas minhas brincadeiras com as minhas bonecas,primeiramente eu desenhava as cenas no papel, criava um roteiro e construía as cenas manipulando as bonecas criando em cima daquilo uma dramaturgia, claro que na época eu nem sabia que estava fazendo eu só brincava.

Anos mais tarde, já mulher feita,com uma trajetória dentro do campo das artes, comecei a ter questionamentos a respeito da sociedade em que eu vivo como todo artista e passei a observar alguns elementos que se destacavam de alguma forma em meu olhar, anotando e fotografando com meu pensamento cenas que só eu percebia ou melhor passavam despercebidamente pelas pessoas apressadas.

Os gestos me chamavam muita atenção, então me apropriei do conceito de flaneur em Walter Benjamim quando ele analisa a flânerie de Charles Baudelaire em sua obra Flores do Mal onde ele afirma que só o artista em sua flânerie consegue penetrar na alma de um outro, em meio aos sobressaltos da rua. Só ele tem acesso à privacidade de alguém, em meio ao espaço público. Benjamim afirma que Baudelaire explicita a sua obsessão de combinar os movimentos da alma e da fantasia ao ritmo da vida moderna; só assim o artista é capaz de captar, no interior da multidão, sentimentos muito íntimos de indivíduos desconhecidos.

Da minha janela eu via as fantasmagorias como Baudelaire, via a matéria prima para a construção de meus personagens, via estórias de corporeidade e fisicidade de cada um. O athos e o gestus que hoje compõem minha pesquisa e me afirmo enquanto flanêur.

Hoje da minha janela eu vejo infinitas possibilidades da minha pesquisa, mas quero no momento concluir uma: a flanerie como instrumento de pesquisa para o ator e vejo que o ator nada mais é que um flaneur na sociedade que vive.

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Ode à Efemeridade 04/10/2009



Passa o tempo: anos, meses,
Semanas, dias, horas, segundos
Passam as crianças que amanhã serão velhos
Passam os velhos que voltam a ser crianças.
Eu passo caminhando e vejo imagens
Que por algum motivo louco já passaram por mim
E rodam em minha mente como uma roleta russa
Que uma hora ou outra irá estourar os meus miolos
Com seus enigmas indecifráveis.
Tento entender e não consigo
E a única coisa que compreendo
É que ainda bem que tudo passa.
Tudo é efêmero:
As pessoas
Os fatos
Os amores
A arte
A felicidade não dura pra sempre
Mas o sofrimento também acaba
E acontecimentos novos surgem
Dinamizando a vida.
Agradeço por ser efêmera
Pois isso permite sempre ter algo novo em mim
Uma avant-guard para a completude,fragmentada
Limitada,esvairida da existência

Trovas de Pescador: Boto do Rio, O Encantado da Amazônia














Estréia nesta sexta feira dia 27/08 o espetáculo Trovas de Pescador: Boto do Rio, O Encantado da Amazônia, resultado da 1ª turma do curso de Artes Dramáticas da ETEPA Anísio Teixeira.
O texto é uma dramaturgia construída com base nas  vivências cotidianas ribeirinhas sobre as estórias de boto, com a peculiaridade da fala utilizada na região das ilhas.
O cenário e a iluminação são feitos com materiais regionais produzidos pelos alunos do curso.O texto é de Edilena Florenzano e Márcia Lima e a direção de Jaqueline Souza.
Trovas de Pescador, traz para a cena, todo o bucolismo dos contos Amazônicos que ouvíamos quando criança.


Local: Teatro Walter Bandeira ( ETEPA Anísio Teixeira) às 20:00h
Travessa Dom Pedro I entre Pedro A. Cabral e Municipalidade (fundos do SEBRAE).
Entrada Franca


Mais Informações:
souza.jackie@bol.com.br
cel: 8812-9753

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Embriague-se Charles Baudelaire

Ainda sob o efeito das Dionisíacas, um poema em homenagem:





É preciso estar sempre embriagado.
 Isso é tudo: é a única questão. Para não sentir o horrível fardo do Tempo que lhe quebra os ombros e o curva para o chão, é preciso embriagar-se sem perdão.


Mas de que? 
De vinho, de poesia ou de virtude, como quiser. Mas embriague-se.


E se às vezes, nos degraus de um palácio, na grama verde de um fosso, na solidão triste do seu quarto, você acorda, a embriaguez já diminuída ou desaparecida, 
pergunte ao vento, à onda, à estrela, ao pássaro, ao relógio, 
a tudo o que foge, a tudo o que geme, a tudo o que rola, 
a tudo o que canta, a tudo o que fala, 
pergunte que horas são e o vento, a onda, a estrela,
 o pássaro, o relógio lhe responderão: 
"É hora de embriagar-se!
 Para não ser o escravo mártir do Tempo, embriague-se;
 embriague-se sem parar!
 De vinho, de poesia ou de virtude, como quiser".

terça-feira, 24 de agosto de 2010

Um Dia

A vida está em mim
ela exala em mim seus odores
seu gosto...
Por ela estar em mim
dentro de mim
Sinto seu toque
Sinto a vida me penetrar
e devorar a minha carne
como um cão faminto.
Sinto a vida me comer
como um gigolô barato
e gozar na minha cara
tudo que eu quis negar
e tudo que eu aceitei.
Quando tudo acaba
ela me olha docemente
põe duas moedas em meus olhos
E me guia
Ao esquecimento.
Um dia ela esteve em mim
Um dia.



Este texto ainda está em construção...

domingo, 22 de agosto de 2010

As Bacantes - Teatro Oficina Uzina Uzona






Fui ontem assistir ao espetáculo As Bacantes, produzida pelo grupo de teatro Oficina Uzina Uzona dirigido por nada mais nada menos que José Celso Martinês.Para quem não sabe, Zé Celso, como gosta de ser chamado, é um dos diretores, atores,dramaturgos, encenadores
 mais importantes do teatro brasileiro.
Seu trabalho iniciou-se no final da década de 50, mas só conseguiu se definir melhor na década de 60, quando liderou o grupo de teatro amador da faculdade de direito de São Paulo Teatro Oficina.
Seu trabalho se destaca pela irreverência, inovação e provocação através de cenas antropofágicas e orgiásticas.
As Bacantes, texto do dramaturgo Ateniense Eurípedes, estreado pela primeira vez em 405 aC, narra a estória de Dionísio, um jovem deus grego que fica enfurecido por sua famíia mortal não acreditar em sua divindade.Rejeitado, ele viaja por muito tempo pela Ásia e por terras estrangeiras e reune um grupo de devotas, as Bacantes e volta a seu leito familiar em Cadmo para se vingar.
As Bacantes, durante muito tempo foi um texto considerado muito repulsivo para ser estudado.Somente no século XX foi trazida e apreciada por muitos encenadores graças a obra  O Nascimento da Tragédia do filósofo alemão Friederich Nietzsche.
O trabalho de Zé Celso traz à tona essa efervescência de Dionísio,que ora é deus, ora é o demônio.Fiquei muito feliz em participar do espetáculo enquanto espectadora, pois ele traz sensações e reações bem primitivas da orgia, do despudor, do despir.
Algumas pessoas criticam o trabalho dizendo que é uma pouca vergonha, putaria e que Zé Celso poderia está fazendo algo mais produtivo.Ora porra, é uma pena que aqui no Brasil temos a cultura do falso moralismo, algumas pessoas ainda se chocam por verem atores nus em cena, mas não se chocam com a pouca vergonha política e cultural que assola nosso país, não se chocam com a idiotização em massa das redes televisivas que estão estampadas em suas caras todos os dias.
Para mim a experiência foi maravilhosa, tomara que possamos ter outras oportunidades como essa.

Meus aplausos ao Teatro Oficina, meus aplausos a Zé Celso Martinês.

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Teu Riso - Pablo Neruda


Tira-me o pão, se quiseres,
tira-me o ar, mas não
me tires o teu riso.

Não me tires a rosa,
a lança que desfolhas,
a água que de súbito
brota da tua alegria,
a repentina onda
de prata que em ti nasce.

A minha luta é dura e regresso
com os olhos cansados
às vezes por ver
que a terra não muda,
mas ao entrar teu riso
sobe ao céu a procurar-me
e abre-me todas
as portas da vida.

Meu amor, nos momentos
mais escuros solta
o teu riso e se de súbito
vires que o meu sangue mancha
as pedras da rua,
ri, porque o teu riso
será para as minhas mãos
como uma espada fresca.

À beira do mar, no outono,
teu riso deve erguer
sua cascata de espuma,
e na primavera, amor,
quero teu riso como
a flor que esperava,
a flor azul, a rosa
da minha pátria sonora.

Ri-te da noite,
do dia, da lua,
ri-te das ruas
tortas da ilha,
ri-te deste grosseiro
rapaz que te ama,
mas quando abro
os olhos e os fecho,
quando meus passos vão,
quando voltam meus passos,
nega-me o pão, o ar,
a luz, a primavera,
mas nunca o teu riso,
porque então morreria.

Pablo Neruda

O apanhador de desperdícios-Manoel de Barros

Uso a palavra para compor meus silêncios.
Não gosto das palavras
fatigadas de informar.
Dou mais respeito
às que vivem de barriga no chão
tipo água pedra sapo.
Entendo bem o sotaque das águas
Dou respeito às coisas desimportantes
e aos seres desimportantes.
Prezo insetos mais que aviões.
Prezo a velocidade
das tartarugas mais que a dos mísseis.
Tenho em mim um atraso de nascença.
Eu fui aparelhado
para gostar de passarinhos.
Tenho abundância de ser feliz por isso.
Meu quintal é maior do que o mundo.
Sou um apanhador de desperdícios:
Amo os restos
como as boas moscas.
Queria que a minha voz tivesse um formato
de canto.
Porque eu não sou da informática:
eu sou da invencionática.
Só uso a palavra para compor meus silêncios.